terça-feira, 16 de maio de 2017

Novelo





O instante é sempre um revelar-se. Mas que ideia errônea  temos do tempo...
Do passado, traçamos um fio que conduz a trajetória, de vivências e memórias, do que foi. É saudável colocar-se fora das situações, como uma terceira pessoa, que observa, sem imersão. Desidentificado. E ainda assim, assombra o mistério do acaso, sobre como as coisas acontecem. Por isso, o presente, este instante do agora, já é perdido. Se vai lentamente. É um novelo de linha que cai no chão, e um gato brinca com as pupilas abertas, a seu desenrolar, o fio vermelho. A vida que tecemos. É o instante. A linha desembolada. E o novelo ainda intacto. De belas formas é este desenho no chão, inda mais belas, quando transformadas, tiradas do aleatório das patas batendo no novelo, e docemente tomadas pelo polegar e indicador, a ponta do fio. Pelo querer humano, a lã é transformada, neste material generosamente natural, macio, e quente. E enfeita a vida, também transformada em belos bordados, pelas mãos sábias e seguras da liberdade. 

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